A arquitetura moderna brasileira é reconhecida como um símbolo de inovação e identidade nacional, destacando o Brasil no cenário internacional com obras marcantes. Contudo, estudos recentes revelam que sua trajetória está entrelaçada com narrativas coloniais, tanto em influências quanto em impactos sociais. Embora o modernismo tenha buscado romper com a herança acadêmica europeia, ele manteve dependências com referências estrangeiras e incorporou estratégias de dominação que refletem a lógica colonial.
A relação entre a modernização do Brasil e o processo de colonização é evidente na arquitetura modernista, que se tornou um veículo de expressão ideológica. Essa perspectiva, embora crescente nos debates contemporâneos, enfrenta resistência por estar ligada a uma visão hegemônica de identidade nacional, fundamentada em conceitos como civilização tropical e democracia racial. A exposição Brazil Builds, realizada no MoMA em 1943, exemplifica essa narrativa ao consagrar a produção modernista brasileira, mas também ao incluir arquiteturas que foram instrumentos da necropolítica escravagista.
Lucio Costa, um dos principais arquitetos do modernismo brasileiro, via a arquitetura colonial como uma fonte essencial para a modernidade nacional. Em seus escritos, ele comparou a arquitetura colonial com a moderna, afirmando que ambas compartilham características fundamentais. Costa argumentou que a transição para a modernidade no Brasil foi influenciada pela abolição da escravidão e pela revolução industrial, e sua visão sobre a arquitetura reflete uma complexa relação entre colonialidade e modernidade.
A construção de Brasília, projetada por Costa, é um exemplo dessa intersecção. Embora reconhecida internacionalmente como um marco modernista, a cidade carrega simbolismos coloniais, como evidenciado no seu Plano Piloto, que reflete uma cruz colonial-cristã. Essa configuração espacial, embora apresentada como um gesto de modernização, revela uma violência histórica que persiste nas narrativas contemporâneas. Assim, o desafio atual é estabelecer um diálogo crítico com esse legado, reconhecendo suas potencialidades e contradições, para que influencie o presente de forma consciente.



